domingo, 6 de junho de 2010

O Julgamento do Acho

Um dia desses, almoçando com um grande amigo – o Sidi – tivemos um diálogo que foi, no mínimo, sui generis, que se deu mais ou menos nos seguintes termos:


    e aí, Sidi, como vão as coisas?

    iriam bem, se não fosse o tal do achismo...

    Achismo?

    É, achismo. "Eu acho isso", "eu acho aquilo".

    Mas qual o problema nisso?

    É que o povo não tem certeza de nada, apesar de falar de tudo!

    Bem, isso é verdade.

    Hoje em dia, é preciso ter muita coragem para dizer "isso é" ou "isso não é", pois a maioria das pessoas se esconde atrás do confortável "acho".


O diálogo foi assim se desenvolvendo e o discurso do Sidi foi se tornando cada vez mais acalourado e indignado. O "acho" estava no banco dos réus e, diante de tão percuciente acusação e do conjunto probatório, seria inevitavelmente condenado.


    tu consegues me entender, meu amigo? O acho é o mal do mundo!

    Bem... da maneira como tu estás colocando, parece fazer sentido...

    claro que faz sentido! É um absurdo. Ninguém tem certeza de nada! É só o tal do acho!


Após o seu efusivo discurso ele arrematou:


    fala a verdade: tu não achas que eu tenho razão?

    – "acho"!


Foi uma das cenas mais engraçadas da minha vida! Não conseguimos parar de rir por um bom tempo!



 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Extinção do Ofendido

 

Ouvi uma bela passagem da vida de Mahatma Gandhi em uma paletra de Huberto Rohden, que suponho tenha sido proferida e gravada nos anos 70.

Rohden relata que Lorde Mountbatten, o último governador Britânico na Índia, após a declaração de independência, pediu desculpas ao povo indiano e, principalmente, a Gandhi pelo longo período de dominação.

Gandhi, no entanto, não deu muita atenção ao pedido de desculpas e tampouco a própria declaração de independência da Índia, pois, ao que parece, estava mais preocupado em  solucionar alguns conflitos que estavam ocorrendo entre hindus e muçulmanos.

Quando foi localizado por um jornalista, foi lhe perguntado se aceitava ou não tal pedido. O jornalista ficou perplexo com a resposta negativa de Gandhi, ao que redarguiu:

 – mas o senhor, sendo uma pessoa iluminada, não aceita um pedido de desculpas?

Ao que Gandhi respondeu:

 – não aceito o pedido de desculpas porque nunca fui ofendido...

Rohden aproveita esse diálogo que teria se dado entre Gandhi e um jornalista, para elucidar parte da filosofia que ele denomina de Filosofia Cósmica.

No caso relatado, apesar de todas as dificuldade e sacrifícios pelos quais sabidamente Gandhi foi submetido, ele não se considerava uma vítima, sequer acreditava ter sido realmente ofendido por alguém. Parece que a Grande Alma descobriu que era mais fácil acabar com um único ofendido – ele mesmo – do que com vários ofensores.

Isso lembra uma pouco a Filosofia de Jesus e dos estóicos. O mal ou o bem não decorrem de circunstâncias externas, mas sim daquilo que está dentro do nosso ser.   

O que sai da boca procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. São estas coisas que contaminam o homem; mas comer sem lavar as mãos, isso não contamina o homem. (Mateus 15: 18-20)

Parafraseando Rohden, só precisa ser recompensado aquele que se encontra descompensado, o que, com toda a certeza, não era o caso de Mahatma Gandhi.

Essa pequena e ilustrativa história certamente nos faz lembrar de algumas teologias que esboçam Deus como um ser que fica contabilizando os nossos erros (negativo) e acertos (positivo) e que, ao final, sente-se muito ofendido quando o nosso saldo está no negativo. Isso é, no mínimo, estranho! Se um ser humano como Gandhi não se sentia mais ofendido com as faticidades, com as exterioridades, como podemos ter a pretensão de acreditar que podemos ofender a Deus? Talvez porque, muitos de nós, veja Deus de acordo com os atributos humanos. Aliás, com atributos de humanos não muito elevados espiritualmente...

 



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