Um dia desses, almoçando com um grande amigo – o Sidi – tivemos um diálogo que foi, no mínimo, sui generis, que se deu mais ou menos nos seguintes termos:
– e aí, Sidi, como vão as coisas? – iriam bem, se não fosse o tal do achismo... – Achismo? – É, achismo. "Eu acho isso", "eu acho aquilo". – Mas qual o problema nisso? – É que o povo não tem certeza de nada, apesar de falar de tudo! – Bem, isso é verdade. – Hoje em dia, é preciso ter muita coragem para dizer "isso é" ou "isso não é", pois a maioria das pessoas se esconde atrás do confortável "acho". O diálogo foi assim se desenvolvendo e o discurso do Sidi foi se tornando cada vez mais acalourado e indignado. O "acho" estava no banco dos réus e, diante de tão percuciente acusação e do conjunto probatório, seria inevitavelmente condenado. – tu consegues me entender, meu amigo? O acho é o mal do mundo! – Bem... da maneira como tu estás colocando, parece fazer sentido... – claro que faz sentido! É um absurdo. Ninguém tem certeza de nada! É só o tal do acho! Após o seu efusivo discurso ele arrematou: – fala a verdade: tu não achas que eu tenho razão? – "acho"! Foi uma das cenas mais engraçadas da minha vida! Não conseguimos parar de rir por um bom tempo!
|
domingo, 6 de junho de 2010
O Julgamento do Acho
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
A Extinção do Ofendido
Ouvi uma bela passagem da vida de Mahatma Gandhi em uma paletra de Huberto Rohden, que suponho tenha sido proferida e gravada nos anos 70. Rohden relata que Lorde Mountbatten, o último governador Britânico na Índia, após a declaração de independência, pediu desculpas ao povo indiano e, principalmente, a Gandhi pelo longo período de dominação. Gandhi, no entanto, não deu muita atenção ao pedido de desculpas e tampouco a própria declaração de independência da Índia, pois, ao que parece, estava mais preocupado em solucionar alguns conflitos que estavam ocorrendo entre hindus e muçulmanos. Quando foi localizado por um jornalista, foi lhe perguntado se aceitava ou não tal pedido. O jornalista ficou perplexo com a resposta negativa de Gandhi, ao que redarguiu: – mas o senhor, sendo uma pessoa iluminada, não aceita um pedido de desculpas? Ao que Gandhi respondeu: – não aceito o pedido de desculpas porque nunca fui ofendido... Rohden aproveita esse diálogo que teria se dado entre Gandhi e um jornalista, para elucidar parte da filosofia que ele denomina de Filosofia Cósmica. No caso relatado, apesar de todas as dificuldade e sacrifícios pelos quais sabidamente Gandhi foi submetido, ele não se considerava uma vítima, sequer acreditava ter sido realmente ofendido por alguém. Parece que a Grande Alma descobriu que era mais fácil acabar com um único ofendido – ele mesmo – do que com vários ofensores. Isso lembra uma pouco a Filosofia de Jesus e dos estóicos. O mal ou o bem não decorrem de circunstâncias externas, mas sim daquilo que está dentro do nosso ser. O que sai da boca procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. São estas coisas que contaminam o homem; mas comer sem lavar as mãos, isso não contamina o homem. (Mateus 15: 18-20) Parafraseando Rohden, só precisa ser recompensado aquele que se encontra descompensado, o que, com toda a certeza, não era o caso de Mahatma Gandhi. Essa pequena e ilustrativa história certamente nos faz lembrar de algumas teologias que esboçam Deus como um ser que fica contabilizando os nossos erros (negativo) e acertos (positivo) e que, ao final, sente-se muito ofendido quando o nosso saldo está no negativo. Isso é, no mínimo, estranho! Se um ser humano como Gandhi não se sentia mais ofendido com as faticidades, com as exterioridades, como podemos ter a pretensão de acreditar que podemos ofender a Deus? Talvez porque, muitos de nós, veja Deus de acordo com os atributos humanos. Aliás, com atributos de humanos não muito elevados espiritualmente... |
Veja quais são os assuntos do momento no Yahoo! + Buscados: Top 10 - Celebridades - Música - Esportes